Parte 1
SOLENE TEMOR
O SENHOR é sublime, pois habita nas alturas; encheu a Sião de direito e de justiça. Haverá, ó Sião, estabilidade nos teus tempos, abundância de salvação, sabedoria e conhecimento; o temor do SENHOR será o teu tesouro (Is 33:5,6).
INTRODUÇÃO
O Senhor é sublime. Elevado acima de todos; muito alto; excelso; grandioso, extraordinário, majestoso. Estas palavras não são suficientes para adjetivar nosso Deus. A definição de sua sublimidade seria uma limitação, por isso não encontramos vocabulário suficiente para definir sua grandiosidade, pois Ele é infinito em todos seus atributos.
Nos Salmos, dentre outras coisas, podemos descobrir o quão sublime é o nosso Deus, a Sua onisciência, a Sua onipresença, a Sua Onipotência e o Seu infinito amor ao homem. O livro de Salmos é uma declaração de Sua infinita grandeza, proteção, paternidade, e o conjunto de forças ou intenções que materializam Sua divindade (deidade).
Enviou ao seu povo a redenção; estabeleceu para sempre a sua aliança; santo e tremendo é o seu nome (Sl 111:9).
Seu nome em Hebraico: El, El Elyon, El Shaddai, El Olam, Elohim, Adonai, Yaweh – Deus, Deus Altíssimo, Deus Onipotente, Deus Eterno, Deus Forte, Meu Senhor, O Senhor.
No grego temos toda esta compreensão em apenas três palavras: Theós, Kyrios, e Pater – Deus, Senhor e Pai.
Diante de tanta grandeza, Davi sob inspiração divina se pergunta: que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites? (Sl 8:4). Seria esta também um pergunta relevante para cada um de nós?
No Salmo 33 há um louvor a este excelso Criador, e, também um aviso sobre o temor que se espera de cada um de nós.
Tema ao Senhor toda a terra, temam-no todos os habitantes do mundo… Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia (Sl 33:8,18).
Quando falamos em temor, alguns talvez digam que Deus é amor e o Deus temível, era na fase do Velho Testamento onde não havia ainda a salvação. Um texto base usado para estas alegações está em I João 4:18 – No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor.
Haveria então uma incoerência? Pois em diversas passagens encontramos: porque grande é o Senhor e mui digno de ser louvado, temível mais do que todos os deuses (I Cr 16:25); – ah! Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível (Ne 1:5); – Agora, pois, ó Deus nosso, ó Deus grande, poderoso e temível (Ne 9:32); Tu, sim, tu és temível; se ti iras quem pode subsistir à tua vista? (Sl 76:7); – Santo é temível é o seu nome (Sl 111:9).
Deus não muda, Ele é o mesmo hoje, ontem e sempre. Não podemos confundir espírito de medo, com temor e reverência ao Senhor.
Reverência é um respeito profundo pelas coisas sagradas, uma consideração, uma veneração. Devemos ser reverentes porque reconhecemos nossa situação pecaminosa e apesar de termos pecado, a cruz de Cristo nos alcançou e esse infinito amor nos constrange. Devemos ser reverentes quanto a nome de Deus porque ele representa seu caráter, e como seres humanos nosso dever é: Temer e obedecer, para que um dia possamos vê-lo face a face.
Para a alma crente e humilde, a casa de Deus na Terra é como que a porta do Céu… Se os crentes, ao entrarem na casa de oração, o fizessem com a devida reverência, lembrando-se de que se acham ali na presença do Senhor, seu silêncio redundaria num testemunho eloqüente. Os cochichos, risos e conversas, que se poderiam admitir em qualquer outro lugar, não devem ser sancionados na casa em que Deus é adorado (Testemunhos Seletos, Vol. II pág. 193,194 E.G.White)
Não podemos amar a Deus verdadeiramente a menos que o temamos, nem podemos temê-lo corretamente a menos que o amemos e reverenciemos.
O temor do Senhor do Senhor não é compreendido com a mente, mas gravado em nossos corações. Ele é revelado pelo Espírito Santo quando nós lemos a sua palavra.
Também é uma das manifestações do Espírito de Deus, na vida do cristão:
Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo. Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de Sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor (Is 11:1,2).
E esta é uma promessa de Deus que também o dará aos corações daqueles que sinceramente o buscam:
Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim (Jr. 32:40).
Toda a verdadeira adoração ao Senhor, tem que ser ancorada em uma reverência da sua presença, pois Deus diz: … e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o Senhor (Lv. 19:30), Davi também nos ensina: porém eu, pela riqueza da tua misericórdia, entrarei na tua casa e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor (Sl 5:7).
Reverência é muito mais que uma simples atitude, não é apenas sentar-se calado, embora, as atitudes quase sempre reflitam nosso interior. Envolve ter consciência do que está ocorrendo. Pressupõe um desejo divino de aprender e de ser receptivo aos sussurros do Espírito Santo.
Implica em um esforço para receber mais revelação e conhecimento. A irreverência não é apenas um ato de desrespeito pela Deidade, mas impossibilita o Espírito de ensinar-nos as coisas que devemos saber
Agora podemos entender a insistência de Davi:
O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra… Temei o Senhor, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem (Sl 34:7,9).
DEUS É GLORIOSO
Antes de falarmos sobre temor do Senhor, temos que ter uma idéia da grandeza e da glória do Deus que servimos.
Pois quem nos céus é comparável ao Senhor? Entre os seres celestiais, que é semelhante ao Senhor? Deus é sobremodo tremendo na assembléia dos santos, e temível sobre todos os que o rodeiam (Sl 89.6,7).
Como podemos respeitar e honrar a Deus devidamente se permanecermos inconscientes da sua grandeza ou do motivo pelo qual Ele merece isto?
Quanto maior for a nossa compreensão da grandeza de Deus, maior será a nossa capacidade para temê-lo e reverenciá-lo.
O povo de Israel não reconheceu a grandeza daquele que professavam servir fielmente. Não deram a Deus o temor ou a reverencia que merecia, sofrendo conseqüentemente as punições devidas ao erro.
O Senhor disse: visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mi, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu, continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste povo; sim, obra maravilhosa e um portento; de maneira que a sabedoria dos seus sábios perecerá, e a prudência dos seus prudentes se esconderá. Ai dos que escondem profundamente o seu propósito do Senhor, e as suas próprias obras fazem às escuras, e dizem: Quem nos vê? Quem nos conhece? Que perversidade a vossa! Como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: Ele não me fez; e a coisa feita dissesse do seu oleiro: Ele nada sabe (Is 29:13-16).
Nós servimos a Deus na imagem que nós temos feito dele. Há pessoas que são rápidas para reconhecer a Jesus como Salvador, curador e libertador. Com a boca reconhecem o senhorio de Jesus; contudo, reduzem sua glória por meio de suas ações e atitudes do coração.
Elas dizem: Deus é meu amigo, Ele é amor e compreende o meu coração.
É verdade que Deus compreende os nossos corações do modo mais completo que nós mesmos podemos entender. Mas, normalmente este comentário é emitido com o objetivo de justificar as ações que contradizem sua aliança. O fato é que estão em desobediência à Palavra de Deus.
Nas escrituras, as únicas pessoas que vemos Deus chamar de amigos, são àquelas que tremem com a sua Palavra, a sua presença e são rápidas para obedecer, não importa o preço.
O grande problema, especialmente no mundo moderno, é que as pessoas não vêem a própria impureza, porque estão se comparando com outros ou com o mundo ao seu redor. As pessoas podem sempre achar alguém em pior estado com quem se comparar. A modernidade não aceita valores objetivos. Cada um faz seu caminho. Vemos isso na postura de muita gente na igreja evangélica. Que saca da Bíblia o que lhe interessa, mas que rejeita ou passa por cima do que vem contra ela. A Bíblia deixou de ser autoridade para muita gente. Ela é a verdade, mas a “verdadeira verdade” é o que a pessoa sente. Esta subjetividade se vê em ensinos e doutrinas. Não é o que a Bíblia diz, mas o que a pessoa sente no coração. E o Espírito Santo leva a culpa desta subjetividade: “O Espírito me revelou” ou “Deus me falou”. (Isaltino Gomes Coelho Filho* Igreja Batista do Cambuí).
De alguma maneira, as pessoas têm distorcido as palavras de Jesus, para justificar uma exceção para elas mesmas. Este é o ponto como a nossa sociedade pensa: O certo e o errado são para os outros, para mim o que vale é o relativo. É errado para os outros porque isto não me afeta, mas se obedecer torna minha vida desconfortável, então estou isento de obedecer.
Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você (Agostinho).
O evangelho oferecido como saída para nossas aflições terrenas, e apresentado como foco principal da ação de Deus na vida de um cristão, tem dado a Deus a aparência de Papai Noel do céu, cujo único desejo é nos dar tudo o que queremos e quando queremos. Isto gera uma obediência de vida curta por motivos egoístas.
Criam cristãos mimados, que não tem o verdadeiro respeito à autoridade, especialmente quando não conseguem o que querem e quando querem. Sua falta de reverencia pela autoridade os leva a ficarem facilmente ofendidos com Deus.
Quando do falecimento de um dos homens mais ricos conhecido pelo ocidente, o banqueiro Rockfeller, a pergunta que não queria calar era: quanto ele deixou…?. A resposta: TUDO!
Nossa “riqueza” não está naquilo que temos, mas, naquilo que semeamos e ajuntamos como tesouro nos céus.
“Grande é o Senhor e muito digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável” (Sl 145:3).
Santo Agostinho foi um dos maiores líderes de sua época. Seus escritos expunham as tremendas maravilhas de nosso Deus. Por mais de mil anos faz-se referencias aos seus escritos. Um dos seus grandes trabalhos é intitulado “A cidade de Deus”.
Em seu leito de morte, cercado por amigos mais íntimos, quando Agostinho se foi para estar com o Senhor, sua respiração cessou, seu coração parou, e uma sensação maravilhosa de paz encheu o quarto. De repente, seus olhos se reabriram, e com as faces brilhantes, declarou aos que estavam presentes: Eu vi o Senhor. Tudo o que eu escrevi é apenas palha. Então partiu para o seu lar eterno.
João relata sua visão de Jesus glorificado: Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último (Ap 1:17).
Isaías também teve uma visão da insondável glória de Deus. Viu o Senhor na sala do seu trono, alto e elevado, e a sua glória enchia a sala. Ao seu redor estavam grandes anjos chamados serafins que, por causa da magnífica glória de Deus, cobriam suas faces com as asas e clamavam: … Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória (Is. 6.3).
Estes anjos não estavam apenas cantando uma canção. Estavam dando uma resposta àquilo que estavam vendo!
continua…