A Cruz e o díscipulo


A Cruz e o Discípulo
(Mt 16:13- 27)

I -Prelúdio – Atalaia
Ezequiel 33:6, Jeremias 6:16,17

Introdução

Queridos irmãos, estamos vivendo um período muito difícil para a igreja do Senhor Jesus, assim, como foi no princípio do cristianismo, onde as pessoas tinham que mostrar decisão e coragem para serem cristãs, faz-se necessário uma tomada de posição frente a um mundo cada vez mais “moderno”.
Uma mensagem hedonista tem acompanhado os anseios de um povo, que procura uma liberdade para servir a Deus cada um do seu jeito. Lamentamos isto, pois, uma mensagem de salvação, não é completa se nela não for incluída o Senhorio de Cristo. Jesus é o bom pastor e as ovelhas ouvem sua voz, reconhecem, e, o seguem. A cruz fez parte de seu caminho.
J. Blanchard diz que se seu cristianismo é confortável, está comprometido. Não existe cristianismo fácil. Se é fácil, não é cristianismo; se é cristianismo, não é fácil.

“Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as cousas existem, conduzindo muitos filhos a glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles… embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos que lhe obedecem…” (Hb 2:10 5:8,9)

“Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar” (1 Pe 5:10)

Andar no caminho de Deus não é uma opção, é orientação para o cristão. A vida cristã é comparada com uma “corrida”, e o corredor é chamado para “deixar todo embaraço e o pecado que tão de perto nos assedia” (Hb 12:1), cujo pecado é, principalmente, o amor por si mesmo o desejo e a determinação de ter o seu “próprio caminho”.
Fomos libertos, somos livres. Temos a liberdade para optar entre o bem e o mal, entre o lícito e o ilícito, entre viver pela carne e o viver pelo Espírito. Sabendo ainda que a liberdade, não é uma licença para fazermos o que é inconveniente, e sim, sermos livres para praticarmos a santidade.

“Afirmo… que alguma forma de sofrimento é praticamente indispensável para a santificação” Stott

Nós estamos aperfeiçoando para Deus uma academia de epistemólogos da obediência, isto é, praticantes do conhecimento. Aprendendo um pouco mais da Palavra de Deus, para guardá-la em nossos corações, e, sobretudo vive-la.
Faço minhas as palavras de nosso Superintendente Geral “… o Senhor restaurou a nossa sorte e nos deu o seu eterno logos, em palavras humanas e que agora habita na vida de um povo, que hoje funciona como uma escola de intérpretes da Bíblia”.
Sim! Somos convidados, convocados, cada um para ser um disseminador, um habilitador de um povo preparado para o Senhor! Entretanto, antes de sairmos em desabalada carreira, precisamos aprender um pouquinho mais, acerca da responsabilidade assumida ao dizermos que somos discípulos de Cristo.

“Nunca entendi o significado da Palavra de Deus enquanto não passei pela aflição” Lutero.

III
Desenvolvimento

“Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz, e siga-me” (Mt 16:24).

Atentemos para os termos deste versículo:

– “Se alguém quer vir após mim” significa que não somos forçados, também não é somente o consentimento da vontade, mas o pleno propósito de coração, uma resolução determinada de todos que querem se unir aos seguidores de Cristo, resultando numa atitude semelhante à de um servo sujeito ao seu senhor, um soldado ao seu comandante, um discípulo ao seu mestre.

– “a si mesmo se negue” este negar vem como referencia a nossa natureza pecaminosa e corrompida, do homem caído, para que possamos viver como redimidos. Isto é, aqueles que conquistaram com a morte de Cristo na cruz uma nova oportunidade, e não podem desperdiçá-la.

– “tome a sua cruz” não passivamente sofra ou suporte, mas assuma voluntariamente, adote ativamente sua cruz que é a marca distintiva de um verdadeiro cristão. A cruz para o cristão é o reflexo do amor de Deus, refletir esta cruz não é humilhação, e sim motivo de honra.

– “e siga-me”… Viva como Cristo viveu — para a glória de Deus.

O Senhor Jesus tinha acabado de anunciar aos Seus apóstolos, pela primeira vez, a aproximação de Sua morte de humilhação. Pedro se assustou, e disse, “Tem compaixão de Ti, Senhor”.
Isto expressou a política da sua mente carnal. O caminho do mundo é a procura para si mesmo e a defesa de si mesmo “Tenha compaixão de ti”.
Mas a doutrina de Cristo não é “salva a ti mesmo”, mas sacrifica a ti mesmo.
Cristo discerniu no conselho de Pedro uma tentação de Satanás, e imediatamente a rejeitou. Então, voltando-se para Pedro, disse: Não somente deve o Cristo subir à Jerusalém e morrer, mas todo aquele que desejar ser um seguidor dEle, deve tomar sua cruz.

“Sem dor, não há vitória; sem espinhos, não há trono; sem fel, não há glória; sem cruz não há coroa”. William Penn

Como mediadora, a cruz de Cristo permanece sozinha; mas experiencialmente, ela é compartilhada por todos que entram na vida cristã. Não adianta tentar fugir disso.

“A cruz é o centro da história do mundo. A encarnação de Cristo e a crucificação de nosso Senhor são o centro ao redor do qual circulam todos os eventos de todos os tempos”. Alexander MacLaren

IV
O que é um “cristão”? Alguém que é membro de alguma igreja? Alguém que crê num credo ortodoxo? Alguém que adota um modo de conduta?
O que, então, é um cristão?
O cristão não é alguém que teve um novo começo em sua vida, mas aquele que recebeu uma vida nova para começar com ela.
Vance Havner diz que se você é cristão, não é um cidadão deste mundo tentando chegar ao céu; mas, sim, um cidadão do céu abrindo caminho através deste mundo.
Ele é alguém que renunciou a si mesmo e recebeu a Cristo Jesus como Senhor. “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o senhor, assim andai nele” (Cl 2:6).
Ele é alguém que toma o jugo de Cristo sobre si e aprende dEle que é “manso e humilde de coração”.
Ele é alguém que foi “chamado à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Co 1:9).
Comunhão em Sua obediência e sofrimento agora, em Sua recompensa e glória no futuro sem fim. Antes da coroa, tem a cruz. Antes do Salmo 23 há o Salmo 22.
Não há como pertencer a Cristo e viver para agradar a si mesmo. Jesus disse “E qualquer que não tomar a sua cruz e não vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14:27).
E novamente Ele declarou, “Mas aquele que me negar diante dos homens (a conduta, o caminhar), também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt 10:33).
A primeira pergunta de Saulo, quando teve seu encontro com Cristo, “Senhor, que queres que eu faça?”.
Será que isto é diferente do que temos visto no “cristianismo moderno” de hoje? Uma teologia hedônica, que enfatizada através de literaturas e pregações, leva as pessoas a Cristo perguntando: “o que o Senhor pode fazer por mim?”.
O grande alvo, fim e tarefa posta diante do Cristão é seguir a Cristo — seguir o exemplo que Ele nos deixou “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1 Pe 2:21), e Ele “não agradou a si mesmo” (Rm 15:3).
O que significa para um homem negar a si mesmo totalmente? Primeiro isto significa deixar de reconhecer nossa própria bondade. Significa parar de descansar sobre nossas obras, para nos recomendar a Deus.
Significa uma aceitação de que “todas as nossas justiças, são como trapo da imundícia”. Foi neste ponto que Israel falhou: “Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus” (Rm 10:3).
Para um homem negar a si mesmo totalmente, deverá renunciar completamente sua própria sabedoria. “Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito!” (Is 5:21). Pois eles “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1:22).
Um conselho sábio para todo cristão adotar é “não te estribes no teu próprio entendimento” (Pv 3:5).
Quando o Espírito Santo está agindo em poder na vida de uma pessoa, é para “destruir os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Co 10:5)
Para um homem negar a si mesmo totalmente, deverá renunciar completamente sua própria força. É “não confiar na carne” (Fp 3:3). É o coração se curvando à declaração de Cristo: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15:5).
Este é o ponto no qual Pedro falhou: “Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim” (Mt 26:33).

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda”
(Pv 16:18).

O segredo da força espiritual reside em reconhecer nossa fraqueza pessoal. Quando estamos fortes somos fracos, quando reconhecemos nossa fraqueza Deus se faz forte em nós. Então, “fortifiquemo-nos na graça que há em Cristo Jesus” (2 Tm 2:1).
Para um homem negar a si mesmo totalmente, deverá renunciar completamente sua própria vontade.
A linguagem dos que são do mundo é a mesma encontrada em Lucas: “Mas os seus concidadãos o odiavam e enviaram após ele uma embaixada, dizendo: não queremos que este reine sobre nós” (19:14).
A atitude do cristão é a afirmativa do apóstolo aos Filipenses: “porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (1:21) — honrá-Lo, agradá-Lo, servi-Lo, este é o sentido da vida cristã.
Renunciar sua própria vontade é o reconhecimento prático de que “não sois de vós mesmos, porque fostes comprados por bom preço”. É dizer com Cristo, “Não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres”.
Para um homem negar a si mesmo totalmente, deverá renunciar ao mundanismo.
Quando nos permitimos parecer e agir como as pessoas mundanas ao nosso redor, nosso testemunho de Cristo torna-se inútil. Eles não podem discernir nenhuma diferença apreciável em nós e, portanto, não são atraídos à luz, porque ela é muito tosca.
Por isso Paulo nos adverte quanto a isso, dizendo: “Não extingais o Espírito” (1 Ts 5:19). O Espírito Santo de Deus literalmente habita no interior dos cristãos genuínos e Sua presença convincente é percebida por aqueles que estão à nossa volta.
No entanto, o pecado do mundanismo, como qualquer outro pecado não confessado em nossas vidas, extingue, resfria ou neutraliza o grau em que o Espírito Santo é observado pelos outros. Nossa carne pecaminosa obscurece a luz da presença do Espírito Santo e, como resultado, nosso testemunho de Cristo é enfraquecido.
Se os cristãos se parecem com o mundo, agem como o mundo, e cheiram como o mundo — como o mundo saberá a diferença?
Já observou como os anúncios em geral usam a frase “Você deve isto a si mesmo” ou “Vá em frente, você merece”? Existe hoje uma indústria multibilionária voltada a satisfazer a carne, e os estudiosos da natureza humana investem nisso grande parte de seu tempo. A carne tem necessidades!
Dos não-cristãos está escrito, “todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo Jesus” (Fp 2:21); mas dos santos de Deus está registrado,“eles não amaram a sua vida até à morte” (Ap 12:11).
A graça de Deus está “educando-nos, para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente” (Tt 2:12).
Nesta negação do ego não pode haver nenhuma reserva, nenhuma exceção: “Nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Rm 13:14).
Deve ser constante, não ocasional: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9:23).
Deve ser espontânea, não forçada, realizada com satisfação, não relutantemente.
“Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Cl 3:23).
Conclusão

Meus irmãos, como o padrão que Deus colocou diante de nós tem sido rebaixado! Como isso condena a vida acomodada, agradável à carne e mundana de tantos que professam que são “cristãos”!
“E tome a sua cruz”. Isto se refere não à cruz como um objeto de fé, mas como uma experiência na alma.
Os benefícios legais do Calvário são recebidos através do crer, quando a culpa do pecado é cancelada, mas as virtudes experimentais da Cruz de Cristo são somente desfrutadas à medida que somos de um modo prático, conformados com a Sua morte.

“Sim, deveras considero tudo como perdi, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as cousas e as considero como refugo, para conseguir Cristo, e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão do seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos” (Fp 3:9-11).
Ressuscitar é uma ação, posterior a morte. Não pode haver ressurreição onde não há morte! Somente pode haver andar prático em novidade de vida ao levarmos “sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo” (Co 4:10).
Quer viver em novidade de vida? Morra para a vida antiga!
“Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4:4).
É impossível andar com Cristo e comungar com Ele, sem que tenhamos nos separado do mundo. Isto foi o que Moisés fez (Hb 11:24-26).
Andar com Cristo necessariamente envolve compartilhar Sua humilhação: “Saiamos, pois, a Ele, fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hb 13:13).
Quanto mais próximo eu andar de Cristo, mais eu serei mal-entendido, ridicularizado e detestado pelo mundo.
Não fique enganado é impossível continuar com o mundo e ter comunhão com Jesus.
Portanto, tomar minha cruz significa que eu deliberadamente aceito ser inimigo do mundo, através da minha recusa em ser conformado a ele.
Tomar minha cruz significa uma vida voluntariamente rendida a Deus. Seguindo o apóstolo Paulo deveríamos ser capazes de dizer “Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”. (At 20:24)
A cruz é lugar de nosso aperfeiçoamento como cristãos, onde nosso caráter é provado.

“Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as cousas existem, conduzindo muito filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles”. (Hb 2:10)

“Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos que lhe obedecem”. (Hb 5:8,9)

A vida que é vivida para a gratificação neste mundo, está perdida para eternidade; a vida que é sacrificada para os interesses próprios e rendida a Cristo, será achada novamente, e preservada durante toda a eternidade.

“O cristianismo é o caminho da cruz… teu sangue e suor possivelmente irão misturar-se aos de Cristo antes que tua vida termine”. Lionel Fletcher

Numa aula de inglês a professora perguntou-me, diante dos demais alunos, sobre os padrões cristãos: “Vocês em sua igreja não podem beber? E não podem dançar, nem se divertir?” Apontando então para um jovem e simpático cristão ao meu lado sentenciou: “Que desperdício!”
Realmente, somos desperdiçados e perdidos para o mundo, achados para Cristo Jesus!

“O cristianismo não é meramente um programa de conduta; é o poder de uma nova vida”. B.B. Warfield

Publicado por Pr. Wilson

cumprindo a carreira que me foi proposta

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