
Em todo o livro do Apocalipse temos uma demonstração plena de como adorar a Deus. O livro nos dá exemplos de “a quem adorar”, do tempo (quantidade, momentos, etc), de louvores, de expressões corporais, de proclamações, da forma de como usar nossos 5 sentidos, a intenção, a motivação, o uso de instrumentos e vários outros. Vamos começar por Apocalipse capítulo 4, versículo 1, para entendermos um pouco o contexto.
“1 Depois destas coisas, olhei, e eis não somente uma porta aberta no céu, como também a primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas.
2 Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono, e, no trono, alguém sentado;
3 e esse que se acha assentado é semelhante, no aspecto, a pedra de jaspe e de sardônio, e, ao redor do trono, há um arco-íris semelhante, no aspecto, a esmeralda.
4 Ao redor do trono, há também vinte e quatro tronos, e assentados neles, vinte e quatro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro.
5 Do trono saem relâmpagos, vozes e trovões, e, diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus.
6 Há diante do trono um como que mar de vidro, semelhante ao cristal, e também, no meio do trono e à volta do trono, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás.
7 O primeiro ser vivente é semelhante a leão, o segundo, semelhante a novilho, o terceiro tem o rosto como de homem, e o quarto ser vivente é semelhante à águia quando está voando.” (Ap 4:1-7).
Fixaremos nossas observações, basicamente, em três aspectos: a cristologia, a doxologia e a liturgia.
Cristologia, o estudo sobre Cristo, é uma parte da teologia cristã que estuda e define a natureza e a doutrina da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Ele, como o centro da doutrina de salvação, tem sido objeto de estudo e discussão desde os primórdios do Cristianismo; CRISTO É O OBJETO DA ADORAÇÃO.
Doxologia, a glorificação, é uma fórmula de louvor e glorificação frequente no Antigo Testamento aplicada a heróis e heroínas, e principalmente a Deus. No Novo Testamento, embora apareça referida a pessoas humanas, dirige-se habitualmente a Deus. É A MANEIRA DE EXALTAR E ADORAR A DEUS PELO LOUVOR.
Liturgia, é um vocábulo que no grego, é formado pelas raízes leit- (de “laós”, povo) e -urgía (trabalho, ofício), e que significa serviço ou trabalho público.
Ela tem raízes absolutamente cristológicas. Cristo rompe com o ritualismo e torna a liturgia um “culto agradável a Deus”, conforme preceitua o apóstolo Paulo: “1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12:1-2). É O CULTO AGRADÁVEL A DEUS.
Essa visão que João teve se passa no céu e o primeiro e mais importante fato que ele vê e descreve “e eis armado no céu um trono” (4.2). Este trono dominará a visão dos capítulos 4 e 5, e de fato, de todo o livro. Desse local central e decisivo, o Trono, a perspectiva de João irá se extender aos círculos mais próximos dele (o arco íris, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos), depois a toda esfera angelical (5:11) e ao fim, até a toda a criação (5:13). Porém o Trono sempre será o centro.
O trono de Deus é um lugar com muita atividade e de contínua adoração. Surpreendentemente a aclamação celestial (litania) começa com um fascinante quarteto: um leão, um boi (novilho), um homem e uma águia iniciam a ação com um maravilhoso pronunciamento.
Uma litania é uma forma de oração utilizada no culto cristão que consiste em uma série de preces feitas em estrutura responsiva. O termo vem do latim litania, derivado do grego lite, e significa oração ou súplica.
Neste caso, ela é formada por uma série de invocações curtas e respostas repetidas, através de proclamações e cânticos.
A primeira doxologia de Apocalipse 4 e 5, é pronunciada e não cantada. A música vocal só começa depois da ressurreição (5:9).
Vejamos um resumo de toda a doxologia desses capítulos.
Ela inicia com a proclamação feita pelos quatro seres viventes, com o “Santo”:
“8 Santo, Santo, Santo
é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
aquele que era, que é e que há de vir.” (4:8).
Ela é seguida por outra proclamação, mas agora dos vinte e quatro anciãos com o “Tu és Digno”:
“11 Tu és digno, Senhor e Deus nosso,
de receber a glória, a honra e o poder,
porque todas as coisas tu criaste,
sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas. (4:11).
Eles iniciam um movimento litúrgico, que no capítulo 5 cresce com dois hinos ao cordeiro. Os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos juntos entoam um novo cântico, o primeiro “Digno És” ao Cordeiro:
“9b Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos,
porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus
os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação
10 e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes;
e reinarão sobre a terra.”. (5:9b-10).
E, logo após, milhões de anjos proclamam em grande voz o segundo “Digno És”:
“Digno é o Cordeiro que foi morto
de receber o poder, e riqueza, e sabedoria,
e força, e honra, e glória, e louvor.” (5:12b).
Culminando com um louvor poderoso de toda a criação, com “Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro”:
“13b Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro,
seja o louvor, e a honra, e a glória,
e o domínio pelos séculos dos séculos.” (5:13b).
A Adoração dos Seres Viventes
“8 E os quatro seres viventes,
tendo cada um deles, respectivamente, seis asas,
estão cheios de olhos, ao redor e por dentro;
não têm descanso, nem de dia nem de noite, proclamando:
Santo, Santo, Santo
é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
aquele que era, que é e que há de vir.
9 Quando esses seres viventes
derem glória, honra e ações de graças
ao que se encontra sentado no trono,
ao que vive pelos séculos dos séculos.” (Ap 4:8-9).
O “Santo” (“Sanctus”, “Hagios”) dos quatro seres viventes (4:8) é uma alusão inequívoca à litania antifonal dos serafins em Isaías 6:3:
“E clamavam uns para os outros, dizendo:
Santo, santo, santo
é o SENHOR dos Exércitos;
toda a terra está cheia da sua glória”. (Is 6:3).
A litania antifonal ou alternada é aquela que há aclamações, proclamações e cantos alternando os coros (por exemplo: dois coros cantam versos com um refrão, coro e povo, homens e mulheres, etc.).
A primeira linha doxológica dos quatro seres viventes, é o Santo, Santo, Santo. A repetição tripla deste adjetivo, tanto em Isaías como no Apocalipse, é simplesmente a forma mais enfática do superlativo em hebraico: “muito, muito santo”, ou talvez “santíssimo”. Para a mentalidade hebraica, e especialmente para Isaías, Javé é por definição e excelência “o Santo de Israel” (Is 1:4; 10:17, 30:11,12). Crer em Deus é “santificar-lhe”, reconhecer-lhe como “o Santo” (Isaías 40:25; Hc 3:3; Jó 6:10; Pv 9:10).
A segunda linha da doxologia dos seres viventes, Senhor Deus, o Todo-Poderoso (kurios ho theos ho pantokratôr) é uma interessante e importante ampliação do sucinto SENHOR dos Exércitos, (kurios Sabaoth).
Devemos nos perguntar por que João ampliou “kurios” para “kurios ho theos” e por que ele escreveu “Pantokrator” em vez de “Sabaoth”. Alguns historiadores relatam que tanto “kurios ho theos” como “Pantokrator” eram títulos divinos dado ao imperador. É possível, portanto, que essa modificação do “Santo” de Isaías 6 trouxe a intenção de desqualificar as pretensões idólatra do imperador e reafirmar que somente Deus é digno de tais atribuições e louvores.
Dentro da situação histórica que viviam os cristãos da Ásia Menor, não era nada fantasioso o imperador romano alegar que ele tinha o domínio de tudo e todo poder. Além destes conceitos serem conhecidos na época, o fato é que o poder imperial parecia não ter limite. O poder era tal que, nenhuma nação e nenhum soberano, jamais conseguiram resisti-lo com êxito. Roma sempre conseguia a vitória.
Era um ato de fé e um ato político, muito corajoso, retirarem do imperador seus títulos de divindade e de onipotência. Para os cristãos, ameaçados e perseguidos, esta doxologia garantia-lhes que o Deus Todo-Poderoso em breve interviria em favor dos fiéis e que a aparente onipotência de Roma era fugaz e fictícia.
A terceira parte da doxologia dos seres viventes, aquele que era, que é e que há de vir em comparação com a terceira parte de Isaías 6:3 (“toda a terra está cheia da sua glória”), há uma substituição total. Ela omite as palavras de Isaías, que haviam sido apropriadas em relação ao tema da criação, que predomina neste capítulo quatro. Em seu lugar, incorpora o “EU SOU”, introduzindo sua posição cronológica, passado, presente e futuro.
De novo, fortes razões devem ter motivado João a fazer referência ao “Santo” desta forma. É provável que aqui também, ele escreveu de acordo com a realidade dos fiéis, ameaçados pelo poder do Império Romano. Segundo Beasley-Murray esta mudança serve para indicar que:
O Senhor da Criação é também o Senhor da história e;
O futuro é caracterizado pela “vinda” do Criador e Soberano Deus.
A modificação do “Santo”, mais uma vez salienta a centralidade de Javé na fé de João de Patmos e a enfática concentração histórica-profética de sua mensagem.
No contexto litúrgico do “Santo”, nos surpreende o “há de vir” ou “virá” (4:8) com que termina. Seria de esperar um simples “será” (aquele que era, que é e que será) para completar a tríplice expressão da eternidade divina. Em meio à glória eterna e da adoração celestial da criação, este “há de vir” antecipa a vinda do Cordeiro que se revelará em 5:5. O que está no Trono é o que veio, vem e virá. Impérios vêm e vão, porém o reino “do que está sentado no trono” é pelos séculos dos séculos e, finalmente, sem dúvida, ele “há de vir” Assim, entendida a frase, a teologia da criação aqui não é meramente abstrata, mas traz aspectos políticos.
Esta primeira doxologia, no início do culto ao redor do trono, destaca três atributos de Deus, mais importante para a fidelidade dos cristãos da Ásia Menor: sua Santidade, sua Onipotência e sua Eternidade (que se expressa na “vinda” histórica). Neste aspecto da visão do Criador, eterno e que “há de vir”, começa a resposta inspirada pela crise em que viviam os nossos irmãos e irmãs da Ásia Menor.
O v.9 do capítulo 4 resume em termos distintos, o louvor dos quatro seres viventes e ao mesmo tempo, introduz a adoração subseqüente dos vinte e quatro anciãos (4:10-11). Com seu magnífico e alegre “Santo”, os quatro seres viventes unem-se para atribuir a Deus três coisas: glória (“doxa”), honra (“time”) e graça (“eujaristia”). Esta poderia ser uma segunda estrofe da doxologia de 4:8 ou a sua síntese concentrada:
“Glória, honra e graças
Àquele que está sentado no trono
que vive para sempre e sempre.” (Ap 4:9).
A glória do Senhor, como clamavam os serafins, enche toda a terra (Is 6:3). A palavra hebraica para glória tem a idéia de peso, força e de prestígio.
Às vezes se refere ao “peso” da riqueza (Gn 31:1), e em outros casos, o “peso social” da elite do povo (Is 5:13). Albright descreveu a “glória do Senhor” como “um envoltório brilhante e resplandecente em torno da essência divina”. Javé é o “Rei da glória” (Sl 24:7-10, cf Ef 1:17, “Pai da glória”), que não dá sua glória a outro (Is 42:8). A atribuição da glória de Deus foi característica do culto judeu e das doxologias judaicas (Sl 66:2; Sl 104:31, Sl 96:3 e cf Is 42:12).
Quando Deus veio em Jesus, sua glória se fez visível (Jo 1:14, “vimos”, cf 2Co 4:4-6). Em paralelo com Javé do Antigo Testamento, Jesus Cristo é o “Senhor da glória” (1Co 2:8), o resplendor da “doxa” de Deus (Hb 1:3). Os príncipes deste mundo não foram capazes de reconhecer em Cristo a “glória de Deus” (1Co 2:8; 2Co 4:4), mas a Igreja reconhece e o declara com louvores. Nas doxologias do Novo Testamento, como as do Antigo Testamento, “doxa” é a palavra mais usada para falar da glória de Deus.
O segundo termo de 4:9 é “honra” (Time). No VT aparece nas doxologias muitas vezes em combinação com “doxa”. Segundo Sl 29:1 e 96:7 somos chamados a atribuir a Deus a glória e honra (força). No NT a combinação de “glória” e “honra” são comuns em doxologias a Deus (2Pe 1:17, 4:9,11) e, especialmente, a Jesus Cristo (2Pe 1:17, cf Hb 2:7, 9, Ap 3:3, 1Tm 1:17).
É evidente que esta fraseologia litúrgica tinha raízes na sinagoga helenista (Judeu que falava grego, criado fora da terra de Israel). Ao mesmo tempo, a atribuição de glória, honra e poder (4:9,11) para Jesus Cristo constituía numa contrapartida para o culto a César na religião oficial do imperador. Declarações como essas não poderiam ser neutras na visão do poder imperial.
A glória e a honra, no v.9 acrescenta um elemento, muito menos comum, na doxologia, a graça (eucaristia, reconhecimento, as ações de graças cf 7:12).
Paulo relaciona o binômio Graça e gratidão (Caris/eucaristia) com a doxa de Deus de uma forma teológica profunda: a Graça de Deus desperta a gratidão dos crentes, pela graça que flui de volta para Deus e redunda numa espécie de “aumento” da sua glória (doxa) (2Co 1:11, 1Ts 3:9; 2Co 4:15). Os rabinos também exaltavam a força do agradecimento: “No futuro, todos os sacrifícios cessarão, mas o sacrifício de ações de graça não cessará, e isto por toda a eternidade. Da mesma forma, todas as confissões cessarão, mas a confissão de gratidão não cessará por toda a eternidade”.
Nesta primeira doxologia, além dos atributos a Deus, a quem se dirige esta adoração, 4:9, Ele também recebe dois títulos:
“Aquele que está sentado no trono” (4:2, 10; 5:1,7,13) e;
“Aquele que vive para sempre e sempre” (1:18, 10:6, 15:7).
Precisamente os mesmos títulos se repetem no versículo seguinte (4:10), com um paralelismo tipicamente hebraico. Esses títulos transmitiam grande coragem aos crentes diante do poder ameaçador do Império Romano.
A Adoração dos Anciãos
“9 Quando esses seres viventes
derem glória, honra e ações de graças
ao que se encontra sentado no trono,
ao que vive pelos séculos dos séculos,
10 os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão
diante daquele que se encontra sentado no trono,
adorarão o que vive pelos séculos dos séculos
e depositarão as suas coroas diante do trono, proclamando:
11 Tu és digno, Senhor e Deus nosso,
de receber a glória, a honra e o poder,
porque todas as coisas tu criaste, sim
por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas.” (Ap 4:9-11).
Estes versículos de 9-11, são uma só frase no grego, porém um tanto longa. Ela coordena uma dupla ação litúrgica: sempre que os quatro seres viventes adoram o Ocupante do Trono com o “Santo” inicial, os 24 anciãos seguem com uma tripla ação (4:10) e com seu próprio louvor ao Criador (4:11).
Pesountai – Prostrar-se-ão – Prostrarão – cairão – deixarão cair-se ao chão;
Proskunésousin – Adorarão;
Balousin – depositar – lançar – jogar – oferecer
Os tempos verbais, todos no futuro indicativo sugerem ações repetidas. A passagem parece descrever uma incessante liturgia antifonal: enquanto os quatro seres viventes entoam o “Santo”, os vinte e quatro anciãos respondem prostrando e repetindo o seu próprio louvor, “Tu és digno” (“Axios ei”), de modo que, os quatro seres viventes iniciam o processo novamente.
A ação litúrgica dos vinte e quatro anciãos (4:10) é essencialmente uma: saindo de seus respectivos tronos, se prostram diante de Deus e colocam suas coroas aos pés do Senhor. Tudo é coordenado simetricamente ao redor do Trono. No centro do universo está “o que está sentado no Trono”, rodeado por vinte e quatro anciãos que também haviam estado em seus tronos, mas agora todos estão prostrados em torno do Trono. Entre eles e o Trono há agora um círculo de vinte e quatro coroas aos pés do Soberano Senhor.
A ação de colocar as suas próprias coroas diante do Trono corresponde a uma prática conhecida no mundo antigo, como um sinal de submissão incondicional a um soberano. Quando um rei era conquistado, ou um rei vassalo mostrava a sua lealdade ao imperador, depositava a sua própria coroa aos pés de seu novo soberano. Tácito relata que o rei Tiridates da Pérsia aproximou-se da estátua de Nero e jogou seu diadema real aos pés do imperador. Barclay ressalta que os exércitos romanos levavam consigo uma imagem do Imperador, precisamente para que os monarcas vencidos pudessem colocar suas coroas diante da figura do soberano de Roma.
Enquanto os quatro seres viventes falavam de Deus na terceira pessoa no “Santo” (4:8), os vinte e quatro anciãos em seu “Tu és digno” (4:11) mudam para a segunda pessoa para falar diretamente a Deus.
Os quatro seres viventes haviam proclamado a glória do ser de Deus em sua santidade e majestade eterna. Os anciãos agora louvam a Deus pela glória e poder de suas obras, por ser o Criador do universo (4:11).
Os anciãos oferecem uma dupla adoração que resume admiravelmente toda a primeira metade da visão do Trono (capítulo 4):
adoram o Ocupante do Trono como “Senhor e Deus nosso” e
como o Criador do Universo.
A Adoração dos anciãos em 4:11 toma a forma de “Tu és digno”, desconhecida aos Hebreus. Rigorosamente, nenhuma palavra em hebraico corresponde ao grego “axios” ou o português “digno”.
Na liturgia hebraica não havia uma forma de aclamação, “Tu és digno”, na segunda pessoa do singular. A doxologia hebraica clássica era “Bendito és Tu” ou “Santo, Santo, Santo”.
No entanto, este tipo de aclamação “Tu és digno”, caracterizava o culto ao imperador na época de Domiciano (96 D.C.). Por exemplo, quando o imperador entrava em Roma em sua procissão triunfal, a multidão gritava: “Tu és digno (vere dignus), senhor e deus nosso”. Como observou Lilje, Mounce e outros, as palavras “Tu és digno” se tornou uma linguagem política da época, para afirmar desafiadoramente que Deus, e não César, era digno de louvor.
A frase “Senhor e Deus nosso” (4:11), também não tem antecedentes claros no AT. Este título parece ter sido introduzido no culto imperial de Domiciano, de acordo com Suetônio, Marcial e outros.
Beasley-Murray também comenta: “… A frase não ocorre na tradução grega do Antigo Testamento, mas é uma tradução exata do título, blasfemamente requerido pelo imperador Domiciano – Dominus et Deus noster”. Novamente, o contexto, a linguagem e a intenção da frase tem um claro caráter político. Embora tenham algum antecedente na fé judaica e expressam as verdades bíblicas e cristãs, a composição exata do culto faz claras referências à ameaça imperialista idólatra.
Também não era típico do culto judaico, o verbo principal de 4:11: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber (“labien” – raiz de “lambano”) a glória, a honra e o poder“. No grego clássico, desde Homero, os deuses recebiam oferendas de seus devotos. De acordo com Platão e Aristófanes os deuses recebiam (lambano) glória (doxan) e honra (time) – a mesma linguagem de 4:11. No entanto, o uso do “lambano” é muito raro, e totalmente ausente nas formulações litúrgicas. No NT, “lambano” aparece junto com “doxa” e “time” somente nessas doxologias do apocalipse.
Esta segunda doxologia repete as duas primeiras atribuições de “glória” e “honra” (4:9), quase indispensável para toda doxologia, e acrescenta uma terceira que é o “poder” (dunamis). Corresponde ao tema inicial do capítulo, o Trono, e o tema central e final, a Criação. O poder também será atribuído ao Cordeiro na doxologia de 5:12. A efetiva “tomada do poder” de Deus e do Messias é realizada em 11:15-18 (cf. 12:10; contra a besta, 13:2, 17:13).
A adoração dos anciãos conclui explicando o porquê “o sentado em trono” é digno de todo louvor: “… porque todas as coisas tu criaste” (4:11). Isto resume doxologicamente o tema central do capítulo, a teologia da criação. A palavra grega “ta panta” era usada para o que hoje nós chamamos de “universo”. A inclusão do pronome “tu” (tua) em uma posição enfática dá uma sensação de exclusividade: “Tu, e somente tu, criou o universo, de modo que só tu és digno de adoração”.
Esta exclamação, tão rica e bela em seus valores doxológicos, está cheia também de ensinamentos teológicos, por exemplo:
Só o Criador é digno de adoração,
todas as coisas foram criadas para a adoração, para se colocarem de joelhos e, como criaturas, depositarem suas “coroas” ao pé do “Ocupante do Trono”. Na verdade, todas as coisas, se refere a toda a criação e, como tal, ela foi feita para louvar ao seu Criador (cf. 5:13),
a relação entre o Criador e criação descarta todo conceito dualista e antagonismo entre matéria e espírito, corpo e alma, ou todo o “deísmo”;
Esta teologia da criação afirma o poder e o direito do Criador de intervir em sua criação e na história, de modo que
este Criador, “o que virá” (ho erjomenos), agirá com todo o seu poder soberano, para resgatar seu povo e também para levar a história até a sua meta.
O Deus da Criação, Soberano de todo o universo, é o Redentor de seu povo em todas as suas lutas.
A última frase diz que “sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”. Barth traduz: “foram criadas para seu prazer”. Diferentes tradições judaicas ensinavam que tudo foi criado para a humanidade, para Israel ou para os justos em Israel. Os vinte e quatro anciãos proclamam que tudo foi criado por Deus e deve servir aos propósitos de sua vontade. A vontade de Deus é o poder supremo no universo. Se não, nem a humanidade nem a Igreja terão esperança alguma, e tudo o que vem depois no livro do Apocalipse pode ser cancelado.
Tudo o que existe, de acordo com este versículo, foi “desenhado” e “designado” por Deus de acordo com a sua sabedoria e consentimento. É isso que significa ser “criatura” para coisas, animais e, especialmente, para os seres humanos. Ter sido criado pela vontade de Deus é, em si mesmo, uma vocação, um chamado.
O fato da nossa própria criação, nos convida a amarmos também, a tudo que Deus quis ao criar-nos, e nos dedicar inteiramente à Sua vontade, que é a razão da nossa existência e nosso louvor.
LOUVAMOS A TI
(RICARDO GARCIA E LOURIVAL)
Louvamos a Ti oh Deus
Por Tua Salvação
Louvamos a Ti oh Rei
Por Tua presença em nosso meio
Rendemos Graças ao Senhor Todo Poderoso
Aquele que Há de Vir
Pra buscar o seu Povo
Aleluia, ao Teu Nome
Aleluia, ao SENHOR
Coisa espetacular. Nós estavamos la.
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Um abraço aos meus amados sumidos.