A igreja e seu serviço


A igreja e seu serviço

 

“Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, senão há quem pregue?” Rm 10:14

 

Introdução

 

A pergunta ecoa além do sinal de interrogação. Pede-se uma resposta. É um clamor, chamando cada um para a sua responsabilidade em sua missão pós-salvação: o ide.

Antes, “todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho” (Is 53), e um dia, fomos arrebanhados! Nosso encontro com o Senhor foi marcante, não só para nós, mas, para todos aqueles que nos cercam. Deus nos deu um novo viver!

Quantos poderiam lembrar de sua vida antes do encontro real com o Senhor, e fazer uma comparação das mudanças, algumas radicais, que trouxeram à sua vida um novo sentido.

É notório que nosso testemunho de vida, gritou em alto e bom som a grandeza de nosso Deus.

Antes, envolvidos com futilidades, sem destino nem identidade, hoje, com uma nova identidade, com um novo destino e comissionados para uma tarefa de suma relevância: falar em nome do Senhor!

Contudo, nosso ânimo tende a se arrefecer, à medida que desviamos nosso foco, e nos conformamos à cultura dessa época ficamos tranqüilizados por informações que são meias verdades. Poderíamos comparar isso com o exemplo de uma isca no anzol: Parte da verdade é que está sendo oferecido um alimento ao peixe, mas, na realidade alimentar não é a intenção do pescador.

Nessa época que estamos vivendo, onde o conhecimento tem sido a marca principal do mundo, a maior preocupação na busca do conhecimento é como trazer mais bem estar para o homem.

Estamos vivendo numa cultura profundamente hedonista e egoísta. Seus valores mais altos estão no prazer e na realização pessoal. Uma de suas abordagens mais discutida é a rejeição de uma verdade objetiva, especialmente no campo da família, da ética e da religião. Para os hedonistas, não existe uma verdade absoluta, aliás, a única verdade absoluta que existe é que não existe a verdade absoluta. Tudo é relativo.

Também, ninguém pode ser julgado, quer seja pela sua ignorância da verdade, que seja por sua variação de uma “verdade” aceita em determinado meio. A única coisa que o homem moderno não tolera é a intolerância.

Portanto, afirmar, que Jesus é “o caminho, a verdade e a vida” e que “ninguém vem ao Pai senão por ele” soa como intolerância extrema. Se, além disso, afirmarmos que aqueles que não se aproximarem de Deus pela fé explícita ou particular em Cristo serão condenados, seja qual for o motivo, já extrapolamos!

Outra variante do hedonismo, muito usada pelos religiosos, é o pluralismo ou sincretismo religioso (sistema onde são combinados opiniões e princípios de diversas religiões) – onde a frase tradicional é: todos os caminhos levam a Deus, e que todas as religiões, no fundo, são manifestações das mesmas experiências de Deus. Há muitas divergências, com o que cremos, mas, a principal delas é que eles retiram o papel redentor de Jesus, reduzindo-o meramente a posição de um grande homem de Deus.

Dentro das comunidades cristãs diversas iscas são lançadas – a teologia da compaixão – onde enaltecemos tanto o amor, a graça e a misericórdia de Deus que nos custa crer que ele pode condenar uma alma perdida. Falta a compreensão de que a alma sem Deus já está condenada.

O universalismo ensinando que de uma forma ou de outra, todos serão salvos. Embora entendam que a salvação só vem por meio de Jesus, se apegam à doutrina da graça irresistível: Deus quer que todos sejam salvos e cheguem ao arrependimento, e perseguirá a todos até que se rendam aos seus pés, e isso inclui Satanás. Não seria mais fácil, Deus retirar o livre arbítrio de cada um?

Há ainda a onda inclusivista – para estes a salvação é como uma apólice de seguro – a garantia da salvação eterna. Não visa a transformação do caráter do crente à imagem e semelhança do Filho de Deus. Seria mais ou menos, querer dirigir um veículo sem ser responsabilizado por nada. Como diriam os antigos, é só “o venha a nós, ao vosso reino – nada!”

Não há como contestar que todos estes pensamentos nos levam a uma tranqüilidade e a um esmorecimento na tarefa que nos foi confiada. Não são poucos os que ficam descansados e deitados em berço esplendido, guardando intacto o talento que lhe foi confiado. Seria esta uma atitude sábia, mesmo ciente de que Ele é severo, que ceifa onde não semeou e ajunta onde não espalhou?

 

I – O ambiente de trabalho

 

À vista de tão grande responsabilidade, devemos saber com exatidão a finalidade da existência e funcionamento da Igreja.

A finalidade da igreja não pode girar em torno daquilo que queremos que seja a sua finalidade, ou do que pensamos que o mundo deseje ou precise. Sua finalidade deriva da vontade de Jesus que é a sua cabeça, do Espírito que lhe dá vida, e de Deus que a adotou.

A finalidade da igreja em relação à doutrina da reconciliação, conduz à existência da comunidade de pessoas reconciliadas. A Igreja existe porque Jesus Cristo vive em meio aos membros dessa comunidade. Como afirmou John MacKay, “compartilhamos a idéia de que a Igreja é, sobretudo uma Comunidade, a comunidade daqueles para quem Jesus Cristo é o Senhor.”

A comunidade de redimidos, a comunidade que se formou em torno de Jesus Cristo, e que busca na razão de ser da Igreja o foco para sua atuação aqui na Terra.

Neste ponto, podemos verificar algumas palavras das Escrituras que refletem uma perspectiva da razão de ser da Igreja.

A finalidade da Igreja vem à tona quando seus membros participam cada vez mais da existência dessa Igreja no mundo por meio da coinonia, do querigma, da diaconia e da martiria. A par de cada palavra há uma declaração bíblica que talvez sintetize tal aspecto específico da razão de a Igreja existir no mundo.

Precisamos, portanto, examinar com mais atenção e firmeza essas palavras, enxergando-as de uma perspectiva bíblica.

 

II – COINONIA: “… que vos ameis uns aos outros…”.

(Jo 13:34)

 

A ordem de Jesus para que amássemos uns aos outros, não pode ser visto meramente como um estilo de vida em comunidade do povo de Deus. Nesse amor, está implícita a presença de Jesus, pois onde estiverem reunidos em coinonia de amor, lá Ele estará. E onde a Cabeça da Igreja está presente no meio dos discípulos, ali existe a Igreja. Sem essa presença de Cristo, não há Igreja. O que Paulo afirmou em 1 Coríntios 13 vem a propósito; se a Igreja é uma, santa, católica e apostólica, mas não tem amor nada é. Qualquer coisa que venhamos a fazer ou pensar em fazer, fora da luz dessa marca da Igreja, não tem nenhum sentido.

Cumpre lembrar também, que a coinonia da Igreja como comunidade de amor é também o fundamento do serviço cristão, do reconhecimento do senhorio de Cristo, e de sermos testemunhas, embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio, através de uma vida em e por Cristo.

A ausência da diaconia, do querigma ou da martiria pode significar que a Igreja voltou-se para dentro de si mesma a tal ponto que não há mais o tipo de coinonia de que Jesus falou. As igrejas que perdem a coinonia perdem a comunhão com Cristo que uniu a promessa “estarei convosco todos os dias” à ordem “ide e fazei discípulos”. Nunca devemos esquecer que todas as pessoas saberão que os discípulos amam uns aos outros dentro da Igreja, porque esse amor é externado.

 

 

III – Querigma “… Jesus é o Senhor…”

 

A própria comunhão da coinonia envolve uma proclamação do senhorio de Jesus. A Igreja tem como elemento central de sua fé e identidade o lema “Jesus é o Senhor”.

O apóstolo Pedro em seu primeiro discurso após o pentecostes declara “…Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” At.2:37.

O próprio Jesus argumenta que “toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações…”

Não podemos confessar que Jesus é o Senhor sem, ao mesmo tempo, proclamar o senhorio sobre todos e tudo. Ser salvo é sair-se de si mesmo e centralizar-se em Deus na pessoa de Jesus Cristo.

O testemunho do cristão, frente as diversas situações, proclama tanto no meio cristão quanto fora dele, o senhorio de Cristo em suas vidas.

A finalidade do querigma é levar o ouvinte a uma mudança de mentalidade (metanoia) e ao batismo.

Querigma é a proclamação de que Jesus é o Senhor! É fruto da interação da coinonia e diaconia.

 

IV – Diaconia  –  “…tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” Mt 20.28

 

Deus nos serve em primeiro lugar, enviando a Jesus Cristo ao mundo. Ele nos presenteia e nos envolve com graça e amor. Por isso nós podemos amar e servir. Diaconia sempre pressupõe algo de doação, de sacrifício: Cristo também se doou para que a humanidade obtenha oportunidade de vida. Este é um sacrifício messiânico que só Jesus pôde assumir. Jesus, como diácono, diz de si mesmo “não vim para ser servido, mas para servir”.

Ser servo, para quem é intrinsecamente egocêntrico, é restrição deprimente, traumatizante, degradante. O homem não aceita a posição de súdito pacificamente, pois o Diabo está sempre a dizer-lhe: você não nasceu para servir, mas para ser servido. O ensino de Cristo é diametralmente oposto: “Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.26-28). E mais: “O maior entre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar, será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar, será exaltado” ( Mt 23.11,12 ).

Aprender a trabalhar com “estranhos” na construção de um mundo melhor, fazer com que o impacto da fé cristã se expanda para novos cenários sociais e cumpra com humildade sua função de servidora do mundo, é uma das razões da existência da Igreja.

O ministério diaconal é uma manifestação inevitável e necessária da natureza essencial da Igreja como a comunidade dos discípulos de Jesus. Confessar que Jesus é o Senhor está fatalmente ligado ao chamado diaconal de Jesus Cristo para que se cuide de “um destes meus pequeninos” (Mt 25:40), pois neles vemos a face de nosso Salvador.

Diaconia não é simplesmente mais uma coisa boa que podemos fazer, ou ainda apenas um braço que deve ser estendido para o mundo que vivemos. É natureza fundamental da Igreja cristã, ministrar a todos os necessitados de todos os lugares. Essa é seguramente uma caminhada sob a cruz, como foi a do Servo.

         A trajetória diaconal da Igreja é um caminho que inclui sofrimento e dor. Os discípulos daquele que veio para servir e dar a sua vida, estarão dispostos a segui-lo e dar sua vida em favor dos que sofrem.

 

V – Martiria – “…sereis minhas testemunhas…”At 1:8

 

A comunidade de coinonia amorosa, uma vida em comum, uma proclamação querigmática de que Jesus é o senhor, um compartilhamento com os necessitados por meio de um ministério diaconal de amor, todos juntos geram a martiria – um poderoso testemunho da natureza missionária da igreja.

O objetivo do corpo de Cristo é tornar tangível, real, visível e efetivo o fato de Jesus Cristo estar presente no mundo. As pessoas que não conhecem a Jesus devem vir a conhecê-lo na presença, na proclamação e nos atos e palavras persuasivas da Igreja.

A palavra testemunho tem a ver com a proclamação aberta e convicta da igreja. Sem esta característica a igreja está parcialmente viva. Martiria tem a ver com a justiça e a Ética da igreja que é comprovada pela vida. Conquanto tenhamos que pregar o Kerygma, a Escritura nos desafia a provarmos isto com a vida. Martiria traz em seu bojo todo relacionamento que Israel mantinha com Deus – “Vos sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, o meu servo a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu anunciei salvação, realizei-a e a fiz ouvir; deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor; eu sou Deus” (Is 43.10,12;), e também expõe a necessidade de testemunhar ao mundo, através da vida, mesmo que isto tenha que incorrer em morte (At 1.8). Martiria também é uma conclamação à reconciliação (2 Co 5.20).

A igreja é uma comunidade de testemunhas. Testemunhas que se manifestam em favor da vida, da justiça de Deus. Não apenas testemunhas oculares de fatos, mas de fatos não vistos, mas que são cridos. Em alguns aspectos martiria também tem um sentido de falar até a morte.

Na verdade, Ser testemunha vem denunciar o compromisso que a igreja tem com Cristo não somente na vida, mas também na morte.

 

Conclusão – “…o Senhor lhe disse: Não temas, pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo,…”Atos 18:9

 

É no meio do mundo, da sociedade, como fator de resposta aos anseios espirituais, emocionais, psicológicos, físicos e políticos, que a comunidade dos discípulos de Cristo, expressa sua finalidade missionária, isto é, existir para o mundo.

A característica da igreja de existir para o mundo não é facultativa; faz parte da existência da igreja. Isto é, não há igreja se não houver compromisso com os pré-cristãos. A igreja que não focaliza os pré-cristãos, que não desemboca numa atitude permanente de doação e renúncia, pode ser um grupo religioso, mas nunca será de fato o Corpo de Cristo em sua expressão exata e palpável neste mundo.

A igreja foi chamada para se manifestar sobre a graça e a misericórdia de Deus, sobre a salvação e ressurreição em Cristo Jesus, por isso ela não pode e não deve se calar.

Pedro e João subiam ao templo para orar. Quando viram um coxo ser carregado para esmolar à porta do templo. Parando ante aquele homem, Pedro pediu que ele lhes desse atenção. Aquele homem então fitando-os, aguardando, quem sabe, uma generosa oferta, recebeu de Pedro a seguinte palavra – “Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isto te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!. E tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente, os seus pés e tornozelos se firmaram; de um salto se pôs em pé, passou a andar e entrou com ele no templo, saltando e louvando a Deus.  Viu-o todo o povo a andar e a louvar a Deus, e reconheceram se ele o mesmo que esmolava, assentado à Porta Formosa do templo; e se encheram de admiração e assombro por isso que lhe acontecera. ”   

Olhem à sua volta. Não foi assim que você viu acontecer com o seu irmão do lado? Ou contigo mesmo?

Houve um dia, que alguém nos pediu um pouco de atenção, e a partir do momento que demos esta atenção, está pessoa nos pegou pelas mãos, e em nome de Jesus o Nazareno, nos levantou, e nos ajudou quando estávamos ainda com os passos vacilantes, e nossa vida se tornou um milagre!

Então nós nos unimos a eles, nesta mesma fé, louvamos a nosso Deus, cantamos de alegria. Deus mudou a nossa sorte!!! Nossos parentes, amigos, e todos os que nos conhecem não entendem o que nos aconteceu, pois antes estávamos derrotados, angustiados, sem destino, e de repente tudo mudou. Apresentamos então o nosso Salvador, e se enchem de admiração e assombro por isso que nos aconteceu.

Pedro e João foram presos, e levados perante o sinédrio, as autoridades, os anciãos e os escribas, com o sumo sacerdote Anãs, Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote, perguntaram – “Com que poder ou em nome de quem fizeram isto?”.

Pedro cheio do Espírito Santo declara: – “tomai conhecimento, vós todos e todo o povo de Israel, de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós”.

Vendo eles, a intrepidez de Pedro e João, e sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se e reconheceram que haviam eles estado com Jesus.

         Vendo com eles o homem que fora curado, nada tinham a dizer em contrário.

         Então consultavam entre si, dizendo: que faremos com estes homens?Pois, na verdade, é manifesto a todos os habitantes de Jerusalém que um sinal notório foi feito por eles, e não o podemos negar. Mas para que não haja maior divulgação entre  o povo, ameacemo-los para não mais falarem neste nome a quem quer que seja.

         Chamando-os, ordenaram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem em o nome de Jesus. Mas Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das cousas que vimos e ouvimos”  (Atos 3 e 4).

 

Sim Senhor eu falarei!!!

Sim Senhor nós também falaremos!!!!