CAPÍTULO V – IDENTIDADE (parte 3)


5.2. RELACIONAMENTO HORIZONTAL

5.2.1. QUEM EU SOU?

A identidade pode ser definida como sendo um conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma determinada pessoa. Este conceito, entretanto, está ligado às atividades da pessoa, à sua história de vida, ao futuro, sonhos, fantasias, características de personalidade e outras características relativas ao indivíduo.

A identidade permite que o indivíduo se perceba como sujeito único, tomando posse da sua realidade individual e, portanto, consciência de si mesmo.

Segundo a psicologia a personalidade seria um conjunto de características que diferenciam os indivíduos. Estes atributos seriam permanentes e dizem respeito à constituição, temperamento, inteligência, caráter, um jeito específico de se comportar.

Poderíamos dizer então, que nossa identidade e personalidade são o resumo de nossas experiências relacionais, desde nossa formação no ventre materno até os dias de hoje. Sendo isto um dos fatores determinantes em nossos relacionamentos com outros.

5.2.2. A IGNORÂNCIA

Há um dito que diz: Cada um anda na luz que tem. Isto é, segundo o conhecimento que se tem é como se caminha, portanto, não podemos lançar culpa sobre outros.

Devido a nossa má formação (nossa ignorância) dentro dos princípios cristãos, ficamos sujeitos a traumas, fobias, complexos, e diversos outros problemas correlatos. Nossos avós, nossos pais, nós mesmos, caminhamos grande parte ou toda a nossa vida sem conhecimento de princípios, alguns básicos, da palavra de Deus.

Percebem que grandes conseqüências, isto deve ter gerado em nossos relacionamentos com Deus e uns com os outros? Estas conseqüências vêm sendo perpetuadas, gerando outros problemas, que assim sucessivamente são repassados de pai, para filhos, até que a iluminação dos princípios da palavra de Deus chegue até nós.

Numa tentativa de conserto, à nossa maneira, mesclamos conhecimentos adquiridos ao longo de nossa existência. Contudo, notamos que o mero conhecimento não gera conserto, é preciso que haja uma iluminação (revelação) daquilo que se está aprendendo. Isto em nós só é possível pela ação do Espírito Santo. Enquanto sentirmos que damos conta de sair da situação, não entregaremos o comando do problema para quem realmente pode resolver, à Sua maneira, tudo.

Em uma palavra ministrada pelo Pr. Ricardo Garcia, ele usando a passagem em que o Apóstolo Pedro se afogava em meio às águas turbulentas do mar, ilustrou com bastante propriedade, que há algumas situações, que mesmo sabendo nadar (conheçamos muitos princípios), sempre precisamos que Jesus nos entenda a mão.

“E Ele disse: Vem! E Pedro descendo do barco, andou por sobre as águas e foi ter com Jesus. Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a submergir, gritou: Salva-me, Senhor! E, prontamente, Jesus, estendendo a mão tomou-lhe e lhe disse: Homem de pequena fé, por que duvidaste?” (Mt 14:29-31).

Há determinadas fases de nossa vida, que usamos tudo que conhecemos, contudo, sentimos que estamos afogando no meio de tanta turbulência.

Não são os princípios que nos salvam, eles nos direcionam a Jesus. Nesse momento nosso clamor (Salva-nos Senhor Jesus!), supera nosso esforço próprio de sair da situação. Então Deus age.

5.2.3. HISTÓRICO

Ao trazer à tona situações em que fomos vitimas, não queremos fazer um foro de condenação, mas, de libertação, para cura e restauração. Citar casos pode trazer à nossa memória momentos ruins que passamos e inadvertidamente, repassamos a outros.

Notem bem, nem sempre repassamos os problemas, mas quase sempre, as conseqüências desses problemas em nosso modo de viver e pensar. Diversas vezes já havia ministrado isto a outras pessoas, e, embora pensasse que vivia o que falava, somente quando atentei para pequenos detalhes de minha vida, percebi o quão longe eu estava disso.

Quando a “iluminação” chegou, pude perceber as conseqüências de semeaduras (propositais ou não) feitas em minha vida e de leve comecei a vislumbrar os “frutos” disso no meu jeito de se relacionar com as pessoas. Buscando, em minha própria vida, em literaturas, em observações, pude detectar algumas situações. E o que mais me chamou a atenção foi o problema da desonra.

A desonra é uma palavra sinônima de vergonha, opróbrio, afronta. Onde gastamos mais tempo em convivência, ai está os maiores focos de desonra. O lar talvez seja o local de maior convivência conhecido, e onde também ocorrem os maiores problemas relacionais.

O primeiro homicídio que se tem conhecimento relatado na Bíblia aconteceu em família. Quando a desonra ocorre em nossos lares, nosso coração fica mais ferido que em qualquer outra situação, é muito difícil assimilar golpes de quem você menos espera.

Por termos nascido em um país pobre do terceiro mundo, hoje emergente, lutamos para chegar onde estamos, tendo então em nossos corações a necessidade de honra pelo muito que fizemos, com o pouco que tínhamos em mãos. Mesmo não falando sobre o assunto, nossa alma se regozija com o reconhecimento, e se entristece quando não somos reconhecidos. É a nossa honra que está em jogo.

As agressões nos levam a fazermos comparações entre o ontem e o hoje. Onde o nosso passado de lutas e dificuldades vencidas, é repassado como troféu reluzente, iluminando a ingratidão e desonra que ora sentimos. Quando somos golpeados, imediatamente trazemos comparações tipo: “No meu tempo não era assim!”.

A balança dos relacionamentos pende de um lado para outro, e as ações de equilíbrio nesta balança, vão da punição física (disciplina) a punição emocional (silêncio, isolamento).

5.2.4. REJEIÇÃO

O sentimento de rejeição, um dos mais terríveis, aflora em todos os níveis, com conseqüências imprevisíveis. Filhos, irmãos, pais, avós, amigos, líderes, todos nós, algum dia já sentimos em maior ou menor grau a rejeição. Dói muito ser rejeitado.

A rejeição ocorre quando não nos aceitam numa coletividade do jeito que somos; Ao colocarem apelidos que ferem nossa identidade, aliás, quase todos os apelidos são pejorativos, e referencias a atributos dos quais não gostamos; Ao não aceitarmos nossa aparência; Quando nos sentimos inferiorizados no meio social em que vivemos; Quando não estamos encaixados na árvore genealógica familiar (filhos adotivos ou enteados); Ao sentirmos oposição a uma idéia ou iniciativa nossa; Quando nossos pais, ou líderes não nos disciplinam, etc.

A rejeição também é causa de outro sentimento: A insegurança (medo). Toda vez que nos sentimos ameaçados a insegurança aparece. Um exemplo disso é a instabilidade no lar, gerando sentimento de fragmentação na família: “Será que meus pais vão se separar?”. Correção com ira por parte daqueles que estão sobre nós, (pais, líderes). Repreensões somente pelas conseqüências do erro.

O que mais citaremos? Abuso físico ou espiritual, abandono, ausência dos pais, dramas familiares, doenças, pobreza, traumas. Cada um pode acrescentar a esta lista seus próprios temores, seus medos, suas marcas, a sua triste história. Sim, parece difícil de acreditar, porém, a maioria de nós, tem uma história triste para contar. Você lembra-se da sua?

5.2.5. A FORTALEZA

Diante de tudo isso, poderíamos dizer que nossa personalidade foi formada por situações que nem sempre foram boas ou agradáveis. Que impacto isto não causou em nosso eu? Como negar os efeitos, as conseqüências disto em nosso modo de relacionar-se com outras pessoas?

Para nos proteger de agressões, criamos diversos disfarces, armadilhas, e outros elementos de defesa, afim de que ninguém possa nos alcançar e ferir. Fechamo-nos como um castelo medieval, com fortes muros, torres, fossos.

Ao olharmos as coisas boas e ruins pelas quais temos lembranças, teremos uma ajuda para melhor compreender o porquê daquilo que somos hoje.

Seríamos vítimas? Somos conseqüências, dos erros e pecados dos outros? Sim, podemos nos lamuriar, tendo pena de nós mesmos. Somos as vítimas. E agora? Viver como coitadinho nos deixa satisfeitos? Não seria melhor uma vida sadia sem auto piedade? Haveria cura para isto?

Há sim! E a nossa cura começa com uma pergunta para nós mesmos? “Será que todas essas semeaduras ruins, em minha vida, não me trouxe uma maneira de se comportar que machuca outros?”. Lembre-se que de tanto nos defendermos, passamos a atacar preventivamente.

Antes de condenarmos a semeadura feita em nossas vidas, devemos verificar primeiramente a nossa semeadura na vida de outros.

“Não eu não tive culpa! Foi tudo conseqüência do que fizerem comigo”.

Exatamente! Nem os que te machucaram têm culpa tudo são conseqüências!

5.3. UM CULPADO

Nós não somos culpados. Ninguém é culpado. Todos são culpados. Aliás, alguém se fez culpado por todos nós: Jesus assumiu toda a culpa pelas nossas transgressões. A nossa cura foi decretada ali na cruz. Não há cura sem a cruz.

“Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens: homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso. Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.

Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como ovelha foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (Is 53:3-7).

Na cruz há humilhação, na cruz há desprezo, na cruz há dor, na cruz há rejeição, na cruz há sacrifício. Sem olharmos para a cruz, nunca seremos capazes de compreender o amor de Deus. Se evitarmos passar pela cruz, dificilmente poderemos também demonstrar nosso amor.

A cruz retrata o momento de mais completa rejeição do homem, a ponto de o próprio Cristo se lamentar “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.

Será que em nosso intimo sentimo-nos desamparados? Será que o nosso sofrimento compara-se ao sacrifício de Jesus? Ele não tinha culpa alguma, mas, se fez maldição em nosso lugar. Muitos motivos ele teve para não ir à cruz. Mas, o seu amor foi maior que os motivos. O nosso valor excedia a rejeição, a humilhação, e a dor.

Ele sabia de sua identidade e destino. Ele era o Cristo e sua missão era nos salvar. O perdão que nós recebemos através deste sacrifício, foi gratuito, e, isso antes mesmo que nós manifestássemos qualquer sinal de arrependimento.

Por que será então que retemos aquilo que nos foi dado tão gratuitamente? É maravilhoso podermos sentir o amor de Deus, entender que este amor é traduzido por sua generosa graça e pela sua imensa misericórdia.

O apóstolo Paulo, diz que onde abundou o pecado, superabundou a graça. Onde há muito perdão, há muito amor. Ame e perdoe. Isto sem justificação alguma, como ovelha muda perante seus tosquiadores. Sem aguardar nada em troca, mas, esperando que o profundo amor surta o efeito que a Palavra nos garante: Amontoar brasas vivas sobre a cabeça do “ofensor”.

O amor fará desaparecer multidão de pecados, inclusive os nossos. O amor lança fora todo o medo, o amor valoriza. A pessoa que antes se fechava em castelo inexpugnável, cheio de armadilhas, para se tornar inalcançável, passará a confiar e se abrir para um relacionamento de confiança mútua e aceitação, em amor.

Se tivermos pessoas constando em nossa lista de devedores. Dependure esta lista na cruz do calvário, pois, quem teve pleno direito de receber algo de seus devedores, somente declarou “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.

Publicado por Pr. Wilson

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