O mínimo do máximo
João 10:10

Vida em abundancia. Talvez não haja uma frase que atraia mais as pessoas que esta. Há uma procura generalizada pela vida abundante, e isto não é errado, porém, qual é o seu conceito de vida abundante? O que é vida abundante para você?
Creio que dificilmente haverá um consenso sobre isso, uns podem ver a vida abundante como uma vida cheia de regalos, onde não haja falta de nada, outros podem ver vida abundante como um caminho de serenidade e paz interior, outros como uma vida sem dificuldades de doenças, traumas, etc.
Uma das respostas mais sensatas que ouvi foi: que ter vida abundante é estar realizado, dentro do propósito de Deus para sua vida. Havendo esta realização, aprenderemos a viver contente em toda e qualquer situação. Então será possível declarar que temos uma vida abundante, pois sem o contentamento não é possível vida abundante.
Embora saibamos de tudo isso, é inegável que sempre estamos ansiosos por uma melhora em nossa condição de vida. A busca pela benção divina, especialmente no que tange à parte material, tem sido o maior canal de sedução e manutenção de membros em comunidades cristãs. Por isso, não é raro vermos pessoas descontentes, machucadas, decepcionadas com o cristianismo.
Entretanto é esta a abordagem que queremos dar a este estudo. Queremos abordar a situação daqueles que estão, mas, não são! Daqueles que caminham juntos, têm experiências profundas com Deus, mas, nunca chegam perto de se realizarem espiritual e ministerialmente.
Com vidas secas, insatisfeitos, não sãos poucos os que buscam novas experiências em comunidade diferentes, esperando assim conquistar a realização pessoal na vida cristã, outros desistem até do cristianismo, retornando a um estágio de degradação pior que o de antes de sua conversão. Basta olhar em volta, e constatar quantos não foram tragados por este imenso abismo.
Creio que nunca pensamos ser participantes dessas situações, contundo é importante sabermos das possíveis causas destes problemas, para que com atitudes diferentes tenhamos oportunidades de modificarmos esta trajetória em nossas vidas.
Analogia
Assim como os israelitas, somos peregrinos nesta terra, é preciso ter esta conscientização. Antes, eles eram escravos. Permito-me uma pausa, no raciocínio, para argumentar que muitos daqueles nem sabiam que eram escravos, pois viviam talvez corte do rei, em algumas casas que eram bem tratados, comiam boas comidas, não passavam por tantas dificuldades como a maioria. Moisés pode ser um bom exemplo disto. Então, houve uma libertação deste cativeiro, está libertação significa que eles estavam livres para optar o que fazer com sua liberdade. Caminhando debaixo da orientação de Deus, por intermédio de Moisés, seu destino final (terreno) era Canaã.
Canaã significava o símbolo da vida humana vivida em todo o seu potencial. Era o lugar onde as promessas divinas se cumpriam, onde o povo de Deus atingiria o máximo de sua capacidade, tanto a nível individual como coletivo. E isso envolveria toda a sua vida – o espírito, suas emoções e seu corpo, inclusive seu casamento, seus filhos e sua atuação ministerial.
A Canaã do Velho Testamento era a terra onde Deus queria que os israelitas vivessem após sua libertação do cativeiro egípcio. Ali eles viveriam pela fé, e o Senhor cumpriria todas as promessas.
Entendemos então que Canaã simbolizava a terra onde os que tinham sido libertados do Egito, viveriam todo o potencial das bênçãos prometidas por Deus. Contudo para chegarem até Canaã, eles eram levados por Deus a atravessar um deserto. Deus queria que aquele povo o conhecesse profundamente, e naquela jornada haveria provas que mostrariam o caráter deles. (Dt. 8:1-3).
Muitos pereceram na travessia, embora livres, ficaram sem desfrutar do potencial que Deus havia preparado para eles. Potencial é a capacidade de realização e, há em cada um nós uma capacidade para realização, um potencial para chegarmos à plenitude da vida Cristã, porém, ter o potencial não significa a certeza ou a garantia de toda sua utilização.
Lembro-me neste momento de diversos aparelhos eletrônicos que são fabricados com um potencial muito acima de nossa utilização, você se lembra de quantos aparelhos possui, e ainda não sabe de todos os recursos ali disponíveis? Embora haja um manual, por desinteresse ou mesmo achar impossível aprendermos alguns recursos, utilizamos na maioria das vezes o mínimo do máximo disponível. “Ligando tá bom!”. Será que não agimos assim também em nossa vida cristã?
Analogamente, poderíamos verificar o progresso rumo à Canaã de nossas vidas. Tentem imaginar, desde o dia de nossa libertação, o inicio da jornada, até os dias atuais. A novidade de vida que estamos vivendo reflete o quanto do potencial que temos está sendo utilizado! O que nos impediria então maximizar o viver cristão? Importante lembrar às palavras de Paulo a igreja em Roma (Rm 6:1-4).
Um fator muito importante e que deve ser sempre lembrado é a nossa total dependência da misericórdia e graça de Deus.
Antes sua presença, era percebida pela nuvem e pelo fogo que acompanhava aquela multidão no deserto. Hoje, o seu Espírito faz morada em cada um daqueles que o receberam como Senhor de sua vida. Como um selo, uma garantia de sua libertação e adoção.
Cientes desta importante verdade verificaremos que a razão pelas quais os que pereceram no deserto não tiveram a oportunidade da vida plena em Canaã, foi que entristeceram Deus de tal maneira, que em certo momento Ele até propôs à Moisés, deixar o povo seguir para a plenitude das bênçãos, sem o Senhor das bênçãos! (Ex. 33:1-3).
Se fossemos pensar democraticamente, Moisés deveria fazer um plebiscito, para saber o que o povo pensaria a respeito daquela proposta. Quais seriam as respostas possíveis? Talvez, alguns se negassem a seguir adiante, mas, com certeza a maioria iria em frente, basta relembrarmos o espírito de murmuração que havia entre eles.
Será que a oferta para sair do aperto seria desprezada? O que vemos hoje? Uma busca da felicidade geral, onde somos os clientes insatisfeitos e Deus o responsável pela self-service cristão, e, sabemos que os clientes sempre têm razão, portanto, que o gerente “se vire”, porque pagamos (sacrifícios) e temos o direito de exigir, reivindicar.
Canaã se tornou o alvo principal e Deus o alvo secundário.
Todavia, a resposta de Moisés denota o tipo de liderança centrada no reconhecimento da dependência total de Deus, diferindo radicalmente do conceito hedonista reinante na atualidade. (Ex.33:15).
Esta passagem de Êxodo nos lembra algo no cristianismo moderno? Há uma busca da cura, uma busca das realizações pessoais, de uma vida cristã em toda sua plenitude. Isso não é errado! Contudo sair para Canaã, a terra que mana leite e mel, sem a presença de Deus é loucura!
Portanto, “não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” já alerta o Apóstolo Paulo. (Ef.4:30).
Depois de todo esse arrazoado fica a pergunta: o que poderia entristecer tanto a Deus, a ponto de tantos não conseguirem chegar à terra das realizações pessoais? Creio que podemos chamar assim à nossa Canaã.
Em sua primeira carta a Igreja de Corinto (10:1-13), o apóstolo que dá valiosa instrução, pedindo que nos lembrássemos de fatos passados e que mirássemos nos exemplos relatados.
Foram fatos que devem nortear nossos passos, a fim de que não cometamos os mesmos erros.
Cobiçando as coisas más – o que poderíamos entender por cobiçar as coisas más? (Nm 11:4) – O que o Egito oferecia para atrair a tantos? Se atentarmos para os detalhes, os testemunhos que temos de outros e de nós mesmos, ficaremos surpresos o tanto que os costumes dos tempos passados nos prendem e nos fazem relativizar a palavra separação em nossas vidas.
Em seu Salmo, Asafe diz que seus pés quase vacilaram quando foram atentar para a prosperidade dos ímpios (Sl. 73:1-13). Será que estas palavras do salmita nunca povoaram nossa mente? Quantas vezes ouvimos e vimos pessoas indignadas com a “negligência” de Deus no trato de suas necessidades?
Aos israelitas cobiçaram o que haviam deixado para trás, no Egito. Fisicamente seguiam para Canaã. Entretanto, em seu coração, estavam retornando ao Egito. Eram mais amigos dos prazeres que de Deus. Estavam mais preocupados com a satisfação de seu ego do que qualquer outra coisa, mesmo que isso fosse à custa de Deus ou dos outros.
Haveria alguma comparação compatível com esses pensamentos, que poderíamos ilustrar mais ainda, o que seja cobiçar as coisas más? Existem ensinamentos destes princípios que inadvertidamente admitimos como certos e estamos lutando por eles, mesmo que seja contra Deus? Deixem o Espírito Santo falar aos seus corações e tão logo haja uma confirmação, renda-se e peça perdão e um novo coração, cheio de arrependimento.
O segundo fato é a idolatria (Ex 32:6) – Idolatria é um sistema de valores que criamos, em que é dado mais importância a qualquer outra coisa que a Deus. O poder, o prestígio, os estudos, o dinheiro, os negócios, a religião, a popularidade, o ego, a pornografia. Há pessoas que se ajoelham diante do altar do trabalho, outros no templo dos esportes e lazer, outros se curvam diante de filhos, cônjuges, e outros que são dominados pela glutonaria.
Há ainda aqueles idolatram suas feridas, e fazem questão de tê-las sempre à mente, por que através delas mantêm, segundo seus pensamentos, uma rede de devedores.
Idolatria, portanto, é outro pecado que impede que desenvolvamos ao máximo o nosso potencial nos aspectos pessoal, conjugal, profissional, espiritual e ministerial.
O terceiro fato é a imoralidade (Nm 25:1-3) – o termo imoralidade designa todos os tipos de pecados sexuais. Muitas atitudes antes reconhecidas claramente como pecado, hoje foram relativizadas e seus nomes mudados. Mudaram os nomes, mas os pecados continuam os mesmos. Pecado é sempre pecado, não importa o nome que lhe damos.
Em nossos dias a imoralidade tornou-se popular. A promiscuidade sexual já é aceita em toda parte – menos na Bíblia. Não é de se admirar que os homens queiram queimá-la, negá-la, ou tirar todo o seu crédito. Mas ainda é a Palavra de Deus que revela o caráter de Deus, que estabelece para o homem o padrão da fé e as regras de conduta.
Muitas pessoas hoje, até conseguem desenvolver todo o seu potencial em algumas áreas, mas acham-se limitados em outras devido a pecados sexuais.
Sabemos de pessoas cujo ministério foi destruído, ou então se acha debilitado. Outros têm caráter fraco, ou pouco desenvolvido. Os homens de Israel morreram no deserto, e nunca chegaram a ver a terra prometida. E em nossos dias também muitas pessoas estão morrendo num deserto pessoal, atoladas até o pescoço no lodo moral, perdendo as bênçãos que Deus tem para elas. Este nunca foi o plano de Deus, nem naquela época para aquele povo no deserto, nem para nós hoje em dia.
O quarto fato relatado é por o Senhor à prova (Nm 21:4,-6) – Por o Senhor à prova é pedir que ele faça algo contrário à sua vontade ou ao seu caráter. As multidões, que por ocasião da crucificação de Jesus, diziam-lhe que descesse da cruz estavam tentando a Jesus. Muitos hoje agem desta forma, cobrando de Deus outro meio de salvação que não a cruz. Ninguém quer cruz, há um clamor pelas promessas do Salmo 23, contudo, se esquecem que antes tem o Salmo 22.
Quem não semeia retidão nos seus atos e ainda cobra de Deus prosperidade, está pondo o Senhor à prova.
Quem vive na promiscuidade, perfeitamente consciente que está pecando; filhos que rejeitam orientação dos pais, crentes que exigem que o pastor promova o crescimento da igreja com base em programas de ação social, e não na pregação da Palavra de Deus e na oração.
Outros desejam gozar dos benefícios da salvação e ao mesmo tempo viver nos prazeres do pecado. Tudo isso é por o Senhor à prova. Estão brincando de cristianismo. As conseqüências estão à vista de todos.
O quinto fato relatado é a murmuração – Em sua forma mais simples, murmurar nada mais é que fazer uma confissão negativa.
Queixar da vida, criticar outros, achar erro em tudo ou espalhar boatos, são formas de murmuração. No quinto capítulo dessa mesma carta aos coríntios, Paulo fala sobre o maldizente. Maldizente é aquele que difama outros, blasfema e usa de linguagem profana.
“Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva!”. A língua é assim. Basta uma pequena observação, um comentário crítico, uma tirada sarcástica para provocar um incêndio de ódio, inimizade e guerra. Ela arrasa relacionamentos deixando após si desolação e cinzas.
Há homens que murmuram contra o patrão ou contra a empresa onde trabalham, e depois não entendem por que não recebem uma promoção. Irmãos murmuram contra a sua liderança e não entendem por que os filhos não se convertem ou não lhes prestam o devido respeito. Murmuram contra Deus e depois se queixam de sua fé ser improdutiva. Não entram em Canaã e não sabem o por quê.

Conclusão
Quem pensa que está de pé cuide para que não caia. Creio que o primeiro passo para não incorrermos nestes erros, é admitirmos a possibilidade de estarmos incorrendo. A partir do momento que temos o reconhecimento de estarmos errados, gera em nosso coração o sentimento de quebrantamento, por conseguinte vem a confissão do pecado, depois o pedido de perdão.
Este novo estado de espírito é campo fértil para atuação do Espírito Santo em nossas vidas, então estaremos livres, alegres, contentes e contentados em toda e qualquer situação. Deus os abençoe.
Baseado no livro: Homem ao máximo
Prs. Wilson & Maria do Carmo Sandoval
04.02.07