Wesley Gonçalves de Souza
Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras (Tiago 3:13)
Vemos, logo no início deste versículo, uma indagação interessante feita em Tiago 3: “Quem entre vós é sábio e inteligente”? Esta não é apenas uma pergunta para separar ignorantes de um lado e sábios de outro, mas um desafio para se revelar uma direção que seria apresentada logo em seguida: “MOSTRE”.
Há um grito nesta geração de afirmação e de superioridade em relação aos outros. Vemos isso o tempo todo nos nossos grupos de amigos, na escola, com nossos vizinhos. Há uma busca para ser encontrado como o mais sábio e mais inteligente, ou simplesmente o mais “badalado” (se é que esta geração ainda usa este termo). Para isso, é preciso fazer as melhores tiradas, ter os amigos mais populares, conhecer as melhores músicas, ter os melhores penteados e usar as melhores roupas.
Para Tiago, mostrar-se não era algo incorreto. Pelo contrário! Mostrar-se era algo mais do que aconselhável, esperado de alguém sábio e inteligente. Entretanto, ele não menciona roupas, amigos, conhecimentos, mas um “mostrar” profundo do que ele chama de “mostrar em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras”.
Um condigno proceder
Eu não sei sobre você, mas eu quero muito ser tido como sábio e inteligente por Deus. Neste caso, o que deve ser mostrado? Para entendermos melhor o que deve ser mostrado, vamos inverter a frase: “mostre em mansidão de sabedoria as suas obras, mediante um condigno proceder”.
O que o Apóstolo está pedindo é que as obras (feitos, ações, agir diário) sejam reveladas a outros através de um proceder (jeito de fazer as coisas, comportamento, postura) condigno. Isto é importante porque tanto as obras como o proceder são considerados. Há uma expressão bastante utilizada que diz “Os fins justificam os meios”, que significa que não importa o como fazer e sim o resultado final. Vemos que, para Deus, isto não existe. O proceder é tão importante quanto às obras.
A palavra condigno vem do grego “Kalos” que significa bonito, gracioso, excelente, admirável, bonito de olhar. Se você quer ser sábio e inteligente, prepare-se para apresentar às pessoas algo que seja bonito de ser visto, admirável e gracioso.
Posso dizer, seguramente, que um jovem gosta muito de mostrar-se para outras pessoas. Ele exterioriza esse desejo principalmente nos seus relacionamentos mais próximos. É preciso que se tenha algo “condigno” para ser mostrado o tempo todo. Entretanto, o “mostrar” está geralmente relacionado a:
- Roupas;
- Penteados;
- Uso do Celular;
- Jeito de falar;
- “Ficar” / “Pegar”;
- Gosto musical (Fones de ouvido);
- Inventar apelidos;
- Humilhar outros para se auto-promover (bullying);
- Fumar;
O evangelho e o estilo de vida cristão nunca estiveram tão retraídos entre os jovens como estão agora. E a explicação para isto é bastante simples: o proceder condigno, conforme a visão de Deus, está sendo encarado como algo careta, antigo e vergonhoso de ser mostrado entre as gerações mais jovens e com os adultos há pouco tempo.
Afinal, se pensarmos de forma moderna: mostrar santidade é coisa para fanático (“Não namorar ninguém e esperar? Casar virgem?”); Falar apenas coisas proveitosas é coisa para ancião (“Não poder falar nenhum Palavrão”?); obedecer aos pais é coisa de nerd (“Você acha que eu sou um robô”?); não participar das farras dos amigos é coisa de monge; não caçoar ninguém é coisa de santo; entre outras coisas. Na visão desta geração, há coisas muito mais interessantes e modernas a serem mostradas, conforme vimos na relação anterior.
Muitos jovens cristãos estão bloqueados com suas verdades bíblicas, com receio de mostrar e revelar ao mundo aquilo que ele acredita ser verdadeiro. Há um medo contínuo de ser taxado de crente, de ultrapassado, de fanático, de alienígena. Estamos, cada vez mais, deixando transparecer somente o que parece “descolado”, permitindo que os outros vejam apenas aquilo que parece comum, sem chamar muita atenção para o novo homem que pode estar crescendo dentro de nós.
Neste contexto, temos o chamado de Tiago, vinda da parte de Deus: mostre, através de algo bonito de se ver, as suas obras.
Jesus e seu desejo de se deixar mostrar
Temos pouquíssimas referências bíblicas com relação à juventude de Jesus. Os textos mostram com mais importância, evidentemente, Seu nascimento e, posteriormente, Seu Ministério. Entretanto, temos um pequeno relato nas escrituras com relação a um fato importante de sua juventude:
Ora, anualmente iam seus pais a Jerusalém, para a Festa da Páscoa. Quando ele atingiu os doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. Terminados os dias da festa, ao regressarem, permaneceu o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Pensando, porém, estar ele entre os companheiros de viagem, foram caminho de um dia e, então, passaram a procurá-lo entre os parentes e os conhecidos; e, não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém à sua procura. Três dias depois, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das suas respostas. Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados; e sua mãe lhe disse: Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura. Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai? Não compreenderam, porém, as palavras que lhes dissera. E desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração. E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens. (Lucas 2:41-52)
Antes de iniciarmos qualquer assunto neste sentido, precisamos entender que, aos 12 anos de idade, um garoto judeu se tornava homem e passava a ser considerado como um “filho da lei”. Neste ponto, ele recebia em si todas as responsabilidades advindas de se obedecer a lei. Por isso, vemos Jesus indo à Jerusalém especificamente para a festa da Páscoa nesta idade.
Vemos o então jovem de 12 anos, Jesus, mostrando algo para todos ao seu redor a ponto de deixá-los admirados de sua inteligência. A Bíblia menciona que seus pais ficaram maravilhados quando o viram. E tudo isto aconteceu porque Jesus resolveu mostrar algo que já estava guardado dentro Dele.
Gostaria de extrair 3 lições específicas, retiradas desse momento de Jesus, que podem nos ajudar a ter a coragem necessária para mostrar obras bonitas e admiráveis aos olhos de Deus e aos olhos dos homens:
Para mostrar algo admirável ao mundo, é preciso se preparar para ir contra os costumes dessa geração:
Ora, anualmente iam seus pais a Jerusalém, para a Festa da Páscoa. Quando ele atingiu os doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. Terminados os dias da festa, ao regressarem, permaneceu o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem (Lucas 2:41-43).
A programação daquele dia era de se cumprir um costume anual de se participar da Festa da Páscoa para Jesus e seus pais. O roteiro estava pronto e eles deveriam fazer exatamente como todas as outras famílias faziam durante aqueles dias. Uma vez que os rituais e festividades estivessem finalizados, eles deveriam retornar para suas cidades e casas.
Mas, para Jesus, não era possível cumprir o costume e retornar à sua casa, assim como a maioria fazia, sem que tivesse cumprido a sua missão. Não dava para voltar misturado à multidão, agindo da mesma forma que todos agiam e caminhando na mesma direção que todos caminhavam.
Se você quer mostrar ao mundo algo condigno, prepare-se para fugir daquilo que a maioria faz ou tentar ser o que todos são, ou ainda fazer o que todos fazem ou ir aonde todos vão. O fato de seu grupo de amigos fazerem ou gostarem de coisas que parecem legais entre eles, não quer dizer que elas o são e que você precise adotá-las também.
Creio que Deus tem buscado uma geração separada de jovens, que tenham coragem de rejeitar o “sistema” e apresentar Jesus a outras pessoas, através de ações diferentes, que irão impactá-las.
Deus não nos chamou para sermos semelhantes ao mundo, mas para sermos diferentes e, principalmente, para mostrarmos essa diferença. Não deixe que a luz que Deus acendeu dentro de você seja escondida debaixo dos costumes estranhos dessa geração. É tempo de “nadar contra a maré”, conforme Paulo instruiu aos Romanos no capítulo 12, verso 2: “E não vos conformeis com este século”.
Para mostrar algo admirável ao mundo, é preciso saber quem você realmente é:
Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados; e sua mãe lhe disse: Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura. Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai”? (Lucas 2:48-49).
Temos, dentro desse contexto, uma transferência muito gentil, singela e poderosa de paternidade. Maria disse: “Teu pai e eu” … – Jesus respondeu “na casa de meu Pai”, referindo-se a Deus. Jesus, pela primeira vez, menciona a si próprio como o filho de Deus.
Essa descoberta o ajudou a se revelar às pessoas naquele momento. Ele tinha a convicção, a partir daquela descoberta, de que era o Filho de Deus. Essa certeza não poderia ocorrer na manjedoura, por razões óbvias, e não poderia ocorrer na infância, porque seria difícil de ser compreendido. A revelação de quem Ele era ocorreu justamente na sua juventude, quando ele já tinha plena capacidade de receber e interpretar aquela identidade.
Um grave problema do nosso tempo, no meio jovem, é a falta de convicção de quem realmente são. Isto ainda parece indefinido e confuso. As atitudes, ações e palavras mudam dependendo do ambiente e das companhias. São fechados e sérios na frente dos pais e pouco comunicativos; mudam completamente na frente dos amigos da escola e tornam-se comunicativos, brincalhões e, em alguns casos, profanos; quando chegam na célula ou na Igreja, são adoradores, sofridos e carentes da graça de Deus.
Precisamos, antes de tudo, permitir que nos vejamos como Deus gostaria que realmente fôssemos. Carecemos profundamente de uma identidade bem definida por Deus, para que tenhamos algo consistente para mostrar às pessoas. Para que isso seja real, você vai precisar fazer como Jesus fez naquele dia: abrir mão do que os outros gostariam que você fosse e receber de Deus quem você realmente é.
Para que isso aconteça, será necessária uma ruptura com aquilo que você acreditava ser certo de se mostrar, e o início de uma nova fase onde sejam apresentadas as ações de quem você realmente é. A partir daquele dia, o interior de Jesus estava convicto de que Ele não era mais apenas o filho de José e Maria, mas o filho unigênito de Deus.
Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Romanos 8:15-17).
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (João 1:12-13).
Para mostrar algo admirável ao mundo, é preciso estar preparado para se apresentar, antes, diante de Deus, confessar os seus pecados e permitir que Ele limpe o seu coração:
E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens”. (Lucas 2:41-52 – grifo nosso).
O crescimento de Jesus obedecia a uma ordem muito importante: Ele crescia, primeiro, diante de Deus e, depois, crescia diante dos homens. Não era possível que se tivesse algo importante para mostrar aos homens e ser reconhecido perante eles, sem que, antes, Ele não estivesse na presença de Deus.
Um erro muito comum é considerar que nós já temos algo importante e valoroso o suficiente, a ponto de ser passível de apresentação às pessoas. Achamos nosso jeito de falar, vestir, se portar e andar atraentes o suficiente para serem apresentados. Entretanto, estes são mais uma exteriorização daquilo que está guardado, dentro dos nossos corações. E, sem que nosso coração seja tratado antes, na presença de Deus, o mostrar pode trazer situações vergonhosas e embaraçosas. Muitos caem nesse erro porque não permitiram que Deus os moldasse.
Se você deseja mostrar algo às pessoas, é preciso que você permite ter seu coração tratado, antes, na presença de Deus. Nosso Pai quer muito incutir em você certas condutas que serão passíveis de admiração quando você revelar a seu grupo de amigos; na mesma proporção que quer retirar de você muitas outras que podem causar vergonha quando forem mostradas. Por isso, o mais importante é: apresente-se antes a Deus, confessando os seus pecados, sendo perdoado por eles e mudando a sua vida.
Por isso, fica o singelo desafio, hoje, de que você tenha a coragem de se apresentar perante a Jesus e abrir diante dEle tudo aquilo que você tem a apresentar. Tenho muitas expectativas de que há muitas coisas que Ele já iniciou um processo no seu coração e que você está pronto para se arrepender, confessar, abandonar a partir de hoje.
Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna (Hebreus 4:16).
aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura (Hebreus 10:11).
Conclusão
Nossa geração está carente de jovens corajosos que tenham a intrepidez de deixar mostrar a riqueza da esperança em Jesus, guardada em seus corações. A geração lá fora geme por exemplos dignos de serem imitados. Creio que não dá mais para ser sempre “mais do mesmo”.
Deus está chamando essa geração para uma grande obra de revelação do Seu poder e da Sua santidade. Deus quer se revelar a todos através de você. Permita ser usado por Deus com este propósito. Permita-se, antes de tudo, apresentar-se, hoje a Ele; busque nEle a sua única e verdadeira identidade (é tempo de abandonar as identidades excedentes e viver só com a identidade dEle); e é tempo de deixar os costumes dessa geração e “nadar contra a correnteza”.
É tempo de mostrar ao mundo, “mediante condigno proceder”, o quão maravilhoso é Jesus através de sua vida.
A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus (Romanos 8:19).